Tentei compor uma ode, ode ao meu desleixo perante a escrita,
minha imaginação decante, vocabulário miserável. Muitos sabem a
existência de textos publicados, mas poucos sabem do pandemônio que
é escrever. Escrever é duro, complicado, exige muito de você; tudo
é feito em pequenas partes. É a junção de uma retalhos para poder
obter um tapete. Não um tapete qualquer, um tapete raro, elegante,
fino e original. Aí onde reside a complicação. Como criar um tapete
original no meio de tantos já existentes? Bem, essa foi apenas uma
das minhas ridículas analogias sobre o que é escrever (já devem
ter percebido que gosto de uma metalinguagem, não?).
Pois bem, não sou do tipo de escritora que possui rituais de
inspiração. Escrevo, na maioria das vezes, por pressão. Ou eu
sento à mesa, pego meu notebook e tento escrever, ou fico condenada
à minha decadente falta de imaginação. Até porque, se não
escrever, não como. Difícil isso, não? Acabei de quebrar todo o
encanto dessa profissão; escritora ou escritor. Acho que não
lembram de mim, sou Clara Bianque. Ah, lembram? Sabia... Não, pera,
não lembram? Sim, aquela obra que ficou famosíssima, aqui no Brasil,
"O garoto da piscina". E aí, e agora, lembraram? Tá bom,
vou reforçar a memória de vocês. Alguém deve lembrar do livro
"Risos soluçados","Amoras azuis", Lantejoula
para pára-brisas", "Asfalto de canudos". Não
lembraram, percebi. Também tive um blog, um blog não que não
conseguia atualizá-lo mensalmente. Se não conseguia atualizá-lo
mensalmente, o que dirá escrever cinco livros.
Não
conhecem os livros, porque eles não foram publicados, ou melhor,
escritos. Todas as minhas obras só pertencem ao mundo imaginário.
Não sou escritora, muito mesmo, preciso escrever para comer. Para
falar a verdade, eu nunca escrevi algumas palavras que tenham surtido
algum efeito importante. Nada.Já fui atriz, mas não por muito
tempo, acho que uns três anos.Não me aceitavam em alguns papéis
porque eu não conseguia chorar, sorrir com maestria ou sequer
esboçar uma reação de surpresa. Péssima atriz!Também tentei ser
pintora, tentei.Como os meus traços(dos desenhos) não se encaixavam
em nenhuma das técnicas já existentes, pensei ser está inovando.
Engano meu, o nome técnico disso é mesmo "você é ruim nisso,
tente outra coisa para sua vida". E eu tentei, mesmo, voltei a
ser escritora. E hoje me encontro aqui, na noite de autógrafos do
lançamento do mais novo livro, "Cadarço desamarrado".
Autografei três livros. "Valeu Mike!", "Tudo bem, sou seu fã número um".
Autografei três livros. "Valeu Mike!", "Tudo bem, sou seu fã número um".
Nunca ouvi um fã
falar com tanta autoridade sobre sua posição na categoria dos fãs.
Realmente ele era o primeiro, haviam dois atrás dele na fila de
autógrafos.
Ana Claudia Nascimento
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